Para garantir o patrulhamento em alguns bairros da Zona Sul de São Paulo, moradores se mobilizaram em pagar alimentação de agentes, consertar viaturas quebradas e até fazer reparos em prédios da polícia, onde ocorreu crimes patrimoniais, como roubos e furtos.
Segundo Celso Neves Cavallini, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do Portal do Morumbi, na zona sul, isso acontece porque os moradores têm ideia do que acontece nas corporações, não esperando uma iniciativa da força pública.”Se a gente não ajudar, nós mesmos somos prejudicados”, diz Cavallini.
Moradores bancam consertos de viaturas, como troca de embreagem e bateria. “Se há um problema, eu contato um, contato outro. Vou distribuindo para não calhar em cima da mesma pessoa”, conta. “A gente não deixa viatura quebrada. Mando consertar até as mais velhinhas”, afirma. “Cada dia que uma delas fica fora de serviço é um ponto crítico que deixou de patrulhar.”
Na Rua da David Pimentel, por exemplo, área nobre, existem casarões com altos muros, seguranças particulares, cercas elétricas e câmeras apontando para todos os lados. Independente disso, a Polícia Militar patrulha três vezes por dia, o motivo é a proximidade com as favelas de Paraisópolis e do Parque Real.
Segundo alguns moradores, a via sirva de rota de fuga para assaltantes que passam, em duplas, de moto.
Por outro lado, especialistas em segurança pública não concordam com esse tipo de ajuda, argumentando que a população possa ficar esperando algo em troca, ou seja, os próprios policiais podem ficar reféns desses favores.
De acordo com o cientista político Guaracy Mingardi, os policiais que recebem os favores ficam pressionados a atender ocorrências nessas regiões e os moradores dali cobrem prioridades.
Já o ex-comandante da Polícia Militar paulista, o coronel Carlos Alberto Camargo, concorda com essas ajudas, mas lembra que o orçamento deveria prever a cobertura de todas as despesas e o auxílio não deveria acontecer. “Isso não deveria ser necessário, porque deve haver orçamento para cada uma das despesas do Estado. Se ocorre pontualmente, num determinado momento, local e tipo de despesa, essa contribuição não é ilegal, é bem-vinda. Mas jamais deve ser confundida com uma verdadeira participação num processo de prevenção primária do crime”, diz o coronel Carlos Alberto.